quinta-feira, 16 de junho de 2011

História da Física na Índia

As primeiras aplicações da filosofia natural na Índia  deram-se na medicina, na metalurgia, na tecnologia da construção (cimento e tintas) e na produção têxtil. Com estes avanços aumentou o interesse em descrever a os elementos básicos da matéria e as suas interacções. Eram estudados fenómenos naturais como marés, chuva, Sol, Lua, constelações, padrões do tempo e agricultura, sendo por exemplo mencionada na literatura a condensação da água dos mares e oceanos causada pelo calor do Sol e a consequente formação de nuvens e chuva.

A ciência na Índia antiga não foi tão afectada por tabus religiosos como noutros locais do mundo. No entanto, a proliferação de rituais e superstições constituiu como noutros sítios um entrave ao progresso científico. Este progresso foi afectado pela influência dos mestres religiosos: foi difícil admitir que os rituais não produziam os resultados esperados e que a observação racional do mundo era de algum modo necessária.

Do século VI a.C. já se encontram textos científicos que tentam ainda que de forma rudimentar catalogar as propriedades de vários tipos de plantas e de substâncias naturais. Há também, nesta altura, um esforço para classificar as observações feitas acerca dos fenómenos naturais e de formular teorias intuitivas sobre a composição da matéria e o seu comportamento.

Quando surgiram as ideias atómicas, por volta do ano 500 a.C., já todas as escolas de filosofia racional hindu, budista e jain tinham algo a dizer sobre a natureza das partículas elementares e sobre o conceito indivisível e indestrutível de átomo, afirmando que os átomos se combinavam tanto em pares como em trios. Pensava-se que a matéria era corpuscular, estando essa composição por trás das propriedades físicas observadas. Os Jains chegaram a postular que as combinações de átomos obedeciam a regras intrínsecas à sua natureza.

Estas teorias atómico-moleculares foram também utilizadas para explicar, embora especulativamente, as alterações químicas causadas pelo calor, tendo sido proposto que este afectava os agrupamentos moleculares causando alterações químicas. Havia mesmo duas teorias concorrentes sobre este processo.

Um conhecimento intuitivo da energia cinética aparece também nos textos de Prasastapada e de Nyaya-Vaisesikas, nos quais se acreditava que todos os átomos estavam em constante movimento.

Ate ao primeiro século da era cristã poucos avanços houve na óptica acreditando-se nessa altura, tal como na  Grécia, que olho era a fonte da luz. Foi então que Susruta postulou que a luz que que iluminava o nosso mundo era exterior a nós, tendo esta afirmação sido repetida no Aryabhatta, no século V.

Havia já nessa altura um antagonismo entre a teoria corpuscular e ondulatória (embora num nível muito rudimentar) estando os filósofos indianos divididos entre os Cakrapani, que sugeriam que a luz e o som eram como a água e se propagavam na forma de ondas, e os Mimamsakas, que acreditavam que a luz era formada por minúsculas partículas.

A astronomia começou por ser estudada com uma finalidade religiosa permitindo saber quando realizar certos rituais e sacrifícios e, embora as primeiras tentativas de descrever os diversos tipos de movimento tivessem sido feitas pelos Vaisesikas, foi apenas no século VII que Prasastapada  foi mais além, partindo do seu estudo do movimento planetário, que descrevia os movimentos linear, curvilíneo, rotacional e vibratório. No entanto, um ponto fraco dos tratados indianos da época era a falta de quantificação.

No século V Arabista mencionou explicitamente, pela primeira vez, que a Terra roda à volta do seu eixo, causando o que parece ser o movimento das estrelas para oeste. Afirmou ainda que o brilho da Lua era causado pela reflexão da luz solar e foi um dos primeiros a considerar que o dia tinha inicio à meia-noite.

Até ao século XX poucos avanços houve na ciência indiana. Mas na Índia surgiram nesse século grandes nomes da física como Satyendra Bose, cujos trabalhos sobre a teoria quântica no início dos anos 20 foram fundamentais para a formulação da estatística de Bose-Einstein e a teoria do condensado de bosões (o nome bosão surgiu precisamente em honra de Bose); Narinder Singh Kapany, que, com base no resultado de Tyndall de que a luz podia descrever uma trajectória curva dentro de um material, realizou experiências conducentes à invenção da fibra óptica; Chandrasekhara Raman e o seu sobrinho Subrahmanyan Chandrasekhar, ambos Prémios Nobeis da Física, o primeiro em 1930 pelos seus trabalhos sobre o espalhamento da luz e o efeito de Raman, e o segundo em 1983 pelos seus estudos teóricos sobre a estrutura e a evolução das estrelas.

Marco Gui Alves Pinto

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