terça-feira, 14 de junho de 2011

Anaximandro de Mileto

Geógrafo, matemático, astrónomo, professor, político e administrador, Anaximandro nasceu em 610 a.C. em Mileto, onde acabaria por falecer a 547 a.C.. Discípulo de Tales, foi o segundo filósofo da escola jónica. São atribuídos a Anaximandro notáveis feitos científicos, dos quais os mais conhecidos são a construção do primeiro mapa do mundo, a introdução dos relógios solares na Grécia e a elaboração da primeira teoria evolucionista dos animais. Para além destas descobertas, ficou ainda conhecido por prever um terramoto na Lacedemonia, o qual acabaria por destruir a cidade inteira de Esparta. Apesar de apenas fragmentos de um deles terem chegado aos nossos dias, Anaximandro terá escrito quatro livros, terá sido autor do primeiro livro filosófico em prosa, contrastando com a tradição do verso que então existia.

Anaximandro adoptou a tecnologia dos relógios solares de doze horas dos Babilónios, introduzindo-a na Grécia, ficando por isso conhecido como o inventor dos gnómons. Ficou ainda deste filósofo grego a construção de indicadores de horas que permitiam assinalar solstícios e equinócios. É-lhe ainda atribuída a primeira delineação do perímetro da terra e do mar, construindo assim o primeiro mapa da Terra habitada, feito a partir dos conhecimentos de navegadores mercantins que abundavam no porto de Mileto, centro comercial e de colonização nesta época. Neste mapa, tinha-se apenas parte da Ásia e da Europa, as quais se encontravam rodeadas por mar. Aparte várias contestações, é ainda tido como o impulsionador da astronomia, com a construção da primeira esfera celeste. Antecipando-se aos Pitagóricos, Anaximandro terá analisado a natureza matematicamente, tendo estabelecidas relações numéricas entre o raio da Terra e a distância dos corpos celestes à Terra (tomou o raio terrestre como unidade: o Sol está a 27 raios, a Lua a 18 raios, e os planetas a 9 raios).

Porém, a ideia que mais se relaciona com Anaximandro é a de ápeiron, o início e fim de tudo o que existe. Ou seja, seria no ápeiron que tudo seria gerado e onde tudo seria destruído, estando a Natureza submetida a um movimento eternamente cíclico. Deste modo, o ápeiron, como origem de toda a matéria, teria um carácter indeterminado, infinito e invisível. Aristóteles e Aristófanes associaram o ápeiron a algo circular, sendo por isso limitado. O ápeiron seria então uma esfera de raio infinito, o círculo infito em extensão espacial. É com esta teoria que Anaximandro vê a sua doutrina separar-se da do seu mestre, Tales, segundo o qual tudo teria início num dos elementos, a água; de modo semelhante, Anaximandro verá o seu discípulo Anaxímenes abandonar esta concepção, atribuindo a origem de todas as coisas ao ar. Anaximandro proclama que a transformação de umas coisas noutras se encontra mediada pelo ápeiron, fonte inesgotável de energia.
A segunda ideia de Anaximandro seria a de cosmos, de etimologia “mundo natural”. Esta ideia terá vindo da tecnologia da roda, associando Anaximandro trajectórias circulares aos astros, que não seriam corpos isolados, mas sim rodas de fogo envoltas numa câmara de ar, a qual possuiria orifícios através dos quais se veria o fogo, levando a obstrução destes aos eclipses e às fases da Lua. Como tudo tem origem no ápeiron, a dinâmica do cosmos desenvolver-se-ia em duas fases: formação do cosmos a partir do ápeiron, e seu retorno ao ápeiron. Segundo Anaximandro, o cosmos (assim como os quatro elementos), terá sido gerado a partir da separação dos opostos:
-  calor/frio (primeiro par de opostos): o calor dá lugar ao fogo, a uma massa incandescente, que rodeia totalmente o frio e que possui um movimento circular.
-  do frio tem-se o segundo par, seco/húmido: o seco dá lugar à Terra, e o húmido gera o líquido(água) e o gasoso (ar).

A Terra teria um formato cilíndrico, habitando o Homem uma das suas bases (planas), rodeada de água, a qual acabaria (através do calor) por ser transformada em ar ou em líquido (mares); sendo a Terra o centro do Universo, era sustentada por nada. Anaximandro acabaria por considerar a Terra uma esfera, a partir da sua teoria de formação de esferas.

Os animais teriam sido originados a partir da lama, a qual ia secando com o calor do Sol, e ver-se-iam mudar consoante as condições do mundo circundante, adiantando já a teoria evolucionista de Darwin. Incapazes de se proteger e de sobreviver, os seres humanos não poderiam vir ao mundo tal como hoje, necessitando de uma entidade biológica que assumiria as funções hoje atribuídas aos progenitores. Deste modo, os homens e mulheres primitivos teriam nascido já adultos, tendo como figura materna um animal semelhante a um peixe, no interior do qual o ser humano teria permanecido até amadurecer.

Outra ideia revolucionária de Anaximandro terá sido a da multiplicidade dos mundos, partindo de que o cosmos não é eterno e que o seu fim (retorno ao ápeiron) não pode significar a aniquilação total, ou seja, o fim do cosmos terá de originar novos mundos. Esta multiplicidade dos mundos pode ser tida como simultânea ou como sucessiva.

Figura: Mapa mundo de Anaximandro.

Sandra Fernandes

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