A problemática da existência do vácuo é tão antiga como o início da tentativa, pelo ser humano, de explicar tudo o que o rodeia. De facto, foi por volta do século V a.C. que se terá idealizado pela primeira vez o éter, que seria, para Anaxágoras de Clazómenas, o meio em que se moviam os planetas e o próprio Sol, ocupando assim todo o exterior do nosso planeta. Este conceito é facilmente compreensível, uma vez que toda a experiência vivencial do homem antigo levava a crer que não existia vácuo, tendo mesmo Aristóteles escrito: “A natureza tem horror ao vácuo”. Porém, alguns filósofos gregos terão concebido a existência de vácuo, mas fora do Cosmos, nunca no seu interior.
Muitos séculos depois, já na Idade Média, a ideia de um vácuo foi tomada como imoral, ou mesmo herética, pois o nada absoluto implicaria a ausência de Deus, pensamento que terá atrasado imenso o avanço do conhecimento sobre este assunto. Porém, no século X, o filósofo islâmico Al-Farabi terá realizado as primeiras experiências registadas sobre a existência do vácuo, usando êmbolos de mão em água, tendo sugerido um conceito de vácuo perfeito e coerente.
A existência de éter perdurou como uma certeza até aos trabalhos de Kepler sobre o movimento de corpos celestes (em finais do século XVI), quando a compreensão das suas observações implicou um regresso ao conceito de vácuo, no qual os planetas se moveriam. A retenção deste conceito significaria o fim do antigo éter.
Foi só no século XVII que esta discussão atingirá novas proporções. O italiano Evangelista Torricelli obteve com o seu barómetro de mercúrio o primeiro vácuo sustentado em laboratório, tendo o francês Blaise Pascal reconhecido que o era. O modelo de Newton foi o primeiro em que aparecerá o vácuo, pois foi o primeiro a ter como premissa a existência de um espaço vazio entre os corpos celestes. Mas esta ideia não será unânime. Descartes tinha usado o conceito de éter de forma semelhante à dos antigos gregos, uma vez que o matemático e filósofo francês não acreditava na existência do vácuo. É, de facto, pouco conhecido que, em pleno século XVII, o conceito predominante de éter era muito parecido ao da Antiguidade (havendo já sido introduzidos, em séculos anteriores, novas concepções de éter), sendo ainda nesta época o éter uma substância que se opunha ao vácuo. Esta dicotomia foi perfeitamente ilustrada por Boyle na sua obra The Sceptical Chemist, de 1661, na qual defende a existência do vácuo, argumentando que nunca terá encontrado evidência experimental para a existência do éter, havendo já inúmeras experiência que indicavam a existência do vácuo.
Esta discussão acabou quando Newton propôs que o vácuo ocupava os céus, expulsando o éter. Com esta possibilidade surgiu a problemática da propagação da luz, a qual nunca preocupou Newton. Este pusera sim em causa a existência de outros tipos de éter, cuja finalidade não seria como meio de propagação da luz, mas justificar outros tipos de aparentes acções à distância, como a electricidade estática ou a própria gravidade.
Com a descoberta de que as ondas luminosas eram transversais (no primeiro quartel do século XIX), surge um novo, e forte, argumento a favor da existência de éter. De acordo com este novo argumento, advém a ideia de que o éter se encontra presente universalmente envolvendo toda a matéria que existe. Assim, com o avanço da teoria ondulatória da luz, a ideia da existência do éter foi renascendo. No início da década de 1880, eram muitos os cientistas que admitiam a existência do éter, tendo concebido inúmeras experiências para provar a sua existência. Não foi, porém, detectado. Com a teoria da relatividade desistiu-se da ideia de éter como sistema de referência preferencial.
Assim, hoje toma-se como certa a existência do vácuo, a ausência de massa (ou de matéria) e de pressão, embora a teoria quântica complique um pouco esta noção.
Sandra Fernandes
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