País com menos de um século, o Paquistão ainda não teve muitas oportunidades de se manifestar no mundo da ciência, sendo, portanto, natural que os seus trabalhos na área da física sejam direccionados para tópicos modernos. Assim, neste país, a física divide-se, de um modo geral, em duas categorias: física teórica e física nuclear.
No âmbito da física teórica, há físicos paquistaneses de renome, com especial destaque para o laureado com o Nobel da Física em 1979, Abdus Salam (1926-1996), e o seu aluno Riazuddin (1930- ). Salam recebeu o Nobel pelo seu trabalho em Física das Partículas, em particular na unificação das forças electromagnética e nuclear fraca. Além dos trabalhos que o levaram ao Nobel, os seus feitos mais notáveis incluem o desenvolvimento do modelo Pati-Salam, o fotão magnético, o mesão vectorial, contribuições para a grande teoria da unificação e a simetria global. Juntamente com Riazuddim, Salam contribuiu ainda para a moderna teoria dos neutrinos e das estrelas de neutrões e buracos negros, além de ter modernizado a teoria quântica de campos. No ensino e promoção da ciência, Salam é lembrado como o fundador da matemática e física teórica no Paquistão, como conselheiro da ciência no seu país, tendo contribuído para o crescimento do mesmo na comunidade mundial da fisica. Por todos esses feitos ganhou numerosos prémios científicos a nível internacional. Em 1973, propôs à Comissão de Energia Atómica do Paquistão (PAEC) a fundação de uma academia anual com o objectivo de promover as actividades científcas do país, uma ideia que foi aceite de imediato. Isto levou à criação do International Nathiagali Summer College on Physics and Contemporary Needs (INSC), onde, todos os anos, desde 1976 para cá, cientistas de todo o mundo se reúnem. A primeira conferência anual do INSC foi sobre física nuclear e de partículas. Riazuddin é especialista em física nuclear e física de altas energias. É um dos pioneiros no programa paquistanês de pesquisa nuclear de dissuasão, sendo, por isso, conhecido como o Teller paquistanês. Trabalhou para o Centre for International Theoretical Physics (ICTP), outra criação de Salam, o PAEC, e a European Organization for Nuclear Research (CERN). Teve também um papel importante no ensino da física no Paquistão, sendo autor de 13 obras científicas em diversos tópicos da física, como física das partículas e mecânica quântica. Riazuddin fez pesquisas originais de alto nível em física teórica. Pertence ao quadro de governadores do Pakistan Institute of Engineering and Applied Sciences (PIEAS) desde 2004.
O desenvolvimento da física nuclear no Paquistão foi iniciado por Salam. Ele sabia a importância da tecnologia nuclear tanto para obtenção de energia como para armamento, e foi um guru no desenvolvimento do programa de armas nucleares do seu país. Dirigiu e organizou a pesquisa científica inicial do Projecto Kahuta, o equivalente paquistanês ao Projecto Manhattan. Em 1965, ajudou à fundação do Pakistan Institute of Nuclear Science and Technology. No mesmo ano, persuadiu o presidente Ayub Khan, contra as intenções do governo, a estabelecer o primeiro reactor de energia nuclear comercial, perto de Karachi. Conhecido como Central de Energia Nuclear de Karachi (KANUPP), consistia num pequeno reactor CANDU de 137 MW. O director do projecto foi o engenheiro nuclear Parvez Butt, da PAEC. O KANUPP entrou em funcionamento a 1972, e, respeitando as normas de segurança da International Atomic Energy Agency (IAEA), opera em potência reduzida. Em 1969, o Commissariat a l'Energie Atomique (CEA), de França, e a British Nuclear Fuels (BNFL) celebraram contratos com a PAEC para fornecer plutónio e centrais de reprocessamento nuclear ao Paquistão. O trabalho nestes projectos só começou em 1972, e como resultado da operação Smiling Buddha, da Índia (um teste nuclear surpresa realizado em 1974), a BNFL cancelou os projectos com a PAEC. Em 1977, devido a pressão exercida pela Secretaria de Estado dos EUA, a CEA também cancelou os projectos com a PAEC. Sem a ajuda do Reino Unido e da França, os engenheiros da PAEC construíram engenhosamente a central de reprocessamento nuclear New Labs, e o reactor de plutónio Khushab Nuclear Complex. Em 1989, a China assinou um acordo com o Paquistão para colaborar na manutenção da central nuclear CHASNUPP-I de 300 MW, e, em 1990, tanto a França como a União Soviética acolheram um pedido do Paquistão com o mesmo objectivo. No entanto, após o embaixador americano no Paquistão ter mostrado o descontentamento do seu país com os referidos acordos, estes foram cancelados. Até 2000, a China expandiu o seu contrato com a APEC 2, estando actualmente a colaborar na construção das centrais CHASNUPP-III e CHASNUPP-IV. A construção da CHASNUPP-II terminou em Abril de 2011.
Raimundo Martins
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